FILOSOFIA

FILOSOFIA

A medicina natural pode acrescentar muito no cuidado geral com as crianças, no tratamento das doenças comuns da infância e na manutenção da saúde.



Os métodos naturais como a Homeopatia e o Ayurveda colaboram com uma postura menos materialista e menos imediatista, desencorajando a auto-medicação, o exagero e a falta de bom senso no uso da alopatia.



É possível mudar os hábitos e usar os recursos naturais a fim de construir um estilo de vida mais saudável, sem deixar de lado a prática médica convencional, com suas indicações precisas.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Vacinar ou não, eis a questão!

Um dos assuntos que dá mais pano pra manga em um consultório homeopático é os das vacinas. Você proíbe as vacinas, por ser homeopata? Meu filho só toma homeopatia, ele pode ser vacinado?
Como conciliar o uso da homeopatia com a vacinação? Vacinar ou não? 
Bom, a resposta para essa pergunta pode variar muito de profissional para profissional. Muitos nem discutem vacinar. Outros nem podem pensar em vacinar. Mas, como este é o blog da minha prática clínica, eu só posso falar por mim, desde já sabendo que há uma gama enorme de argumentos prós e contras. Vamos fazer aqui, um balanço da minha opinião e da minha vivência como pediatra e mãe, para poder chegar a alguma conclusão que seja mais tranqüilizadora para as famílias homeopatizadas.
PRIMEIRO PONTO: algumas vacinas protegem contra doenças muito graves.
Doenças como o tétano e a meningite, quando acontecem na infância são muito graves e até letais. Vamos pegar como exemplo, a meningite por pneumococo (que é mais grave do que a meningocócica). Ninguém gostaria de ter o filho acometido por uma doença que tem complicações muito graves como o abscesso cerebral e seqüelas permanentes do desenvolvimento neuro-psico-motor da criança. A meu ver, nenhum efeito colateral da vacina contra pneumococo poderia ser tão grave quanto a própria doença. Além disso, trago comigo a lembrança de ter cuidado de uma criança sequelada de meningite por pneumo, e até hoje penso que aquilo tudo poderia ser evitado pela vacinação.
Às vezes brinco que a Analu sofrerá o efeito colateral de ter uma mãe pediatra: na tentativa de protegê-la de doenças graves, não titubeei em vaciná-la. Mesmo sabendo que, do ponto de vista homeopático, estou a submetendo a outro tipo de doença. Alguns teimam em dizer que é a “doença da vacina” é pior. Mas não consigo me convencer disso, quando me lembro daquela criança tão seriamente comprometida de quem cuidei. E não me desespero tanto com a idéia de vaciná-la.
É uma questão de por na balança: o risco de se contrair uma doença horrorosa destas é pequeno. (Mas quando ela acontece, é grave demais) VERSUS o risco de se apresentar um evento adverso da vacina que protege contra aquela doença (mas que não é tão grave quanto a doença em si). E, além de tudo, pode ser evitado ou amenizado com o uso da homeopatia. Chegamos aqui ao
SEGUNDO PONTO: o uso da homeopatia para prevenir ou amenizar os eventos adversos das vacinas.
Do ponto de vista homeopático, após a vacinação podem ocorrer duas situações: nenhuma reação à vacina, o que indicaria um organismo muito saudável, que lidou bem com o estímulo morbífico da vacina ou um organismo tão comprometido que não conseguiu nem responder ao estímulo. Felizmente, nossas crianças respondem, na maioria das vezes, da primeira forma.
Ou, se ocorrer reação à vacina, esta pode ser leve, moderada ou grave. O fato de se desenvolver febre após a vacinação não é ruim. É o sinal que o organismo está tentando se livrar do estímulo morbífico da vacina.
De qualquer maneira, alguns medicamentos homeopáticos podem ser úteis no combate aos eventos adversos e às seqüelas da vacinação. O mais consagrado é o uso da Thuya, antes e depois da vacinação. Teoricamente, o seu uso impediria que o estímulo da vacinação funcionasse como uma noxa, levando ao aparecimento de doenças crônicas no futuro.
Outras formas possíveis de se medicar homeopaticamente após a vacinação são: utilizar os antígenos da vacina dinamizados (na forma homeopática) como, por exemplo, Bordetella pertussis CH5 após a vacinação de coqueluche. Ou ainda, tratar a reação vacinal como um quadro agudo: selecionar os sintomas que a criança está apresentando durante a reação vacinal e repertorizá-los, chegando a um medicamento homeopático que cubra a totalidade sintomática.
TERCEIRO PONTO: evidência científica que a vacinação, suprimindo as infecções “benignas” da infância, NÃO é um fator de risco para o desenvolvimento da atopia.

Li um artigo científico escrito pelo Dr. Ubiratan C. Adler, (médico homeopata, Mestre em Imunologia, Coordenador da Pós-graduação em Homeopatia da Faculdade de Medicina de Jundiaí), em que, muito bem embasado, ele rebate a hipótese de que a vacinação, por suprimir as doenças comuns da infância, deixaria de der a oportunidade àquele organismo de não desenvolver doenças crônicas como a atopia.

Reproduzo do artigo original:

Eis aqui uma outra oportunidade adequada para observar que grandes doenças epidêmicas como varíola, sarampo, miliária rubra, escarlatina, coqueluche, disenteria outonal e tifóide, depois de completarem seu curso, especialmente sem um tratamento homeopático criterioso, deixam o organismo tão abalado e irritado que, em muitas pessoas que parecem recuperadas, a Psora que antes estava adormecida e latente, agora acorda rapidamente, seja na forma de erupções semelhantes à sarna, seja na forma de outros sofrimentos crônicos...”
S Hahnemann

As observações de Hahnemann não endossam o “pressuposto homeopático” que considera as doenças infecciosas da infância como benignas, protetoras contra doenças crônicas futuras. Pelo contrário, o criador da Homeopatia avaliava as doenças epidêmicas importantes como nóxas que favorecem o desenvolvimento de doenças crônicas, inclusive erupções semelhantes à sarna. Entre as doenças crônicas que hoje chamamos de alérgicas, não seria a dermatite atópica uma erupção semelhante à sarna?


Hahnemann conheceu o resultado da vacinação antivariólica inicial. Em 40, 50 anos de observação de indivíduos imunizados, nada mencionou sobre o desenvolvimento de doenças crônicas causado pela vacina de Jenner, mas sim destacou o benefício proporcionado pela vacinação: “um fato benéfico marcante”. A varíola já não mais “dizimava metade ou três quartos das crianças das cidades que visitava”.
As críticas à vacinação foram introduzidas nas publicações homeopáticas pelo médico homeopata inglês, Burnett que viveu no final do século XIX. Segundo Burnett:

“ao vacinarmos um indivíduo, nós o estamos deixando doente, nós comunicamos vacinose a ele; se, somando-se à vacinose esse indivíduo contrai varíola, suas chances de morrer serão maiores, tanto maior for a vacinose que ele tiver”.

Apesar dos conhecimentos atuais ainda serem limitados sobre o mecanismo de manutenção da memória imunológica, grosso modo sabe-se que a eficiência de uma vacina depende da captura e processamento de seus antígenos pelas células dendríticas, que os apresentam (processados na forma de peptídeos) para as células T, ao mesmo tempo que estimulam a maturação destes linfócitos em células efetoras ou de memória.

Portanto, a teoria da vacinose de Burnett não tem fundamento imunológico. Ao vacinarmos um indivíduo com um determinado antígeno, não o estamos deixando doente, mas sim estimulando linfócitos T a atuarem como células de memória, prontas a coordenar uma resposta imune mais eficiente em caso de novo contato um antígeno muito semelhante. Compreendendo os princípios deste mecanismo, Hahnemann já entendia a vacinação como uma “cura homeopática por antecipação”.

Afastando-se da atitude inicial pró-vacinação de Hahnemann, a literatura homeopática multiplicou preconceitos em relação aos efeitos adversos das vacinas, que têm sido responsabilizadas por muitos males, desde um aumento da suscetibilidade às doenças em geral até a “violência social epidêmica nos Estados Unidos”.

É consenso que a vacinação, como qualquer procedimento sobre a saúde humana, não é isenta de riscos ou efeitos adversos e que cada vacina deve ser avaliada pela relação risco/benefício. Mas, considerando-se a cobertura vacinal como um todo, estudos amplos e bem desenhados como os de Anderson ou Grüber supracitados, apontam a vacinação como um fator de proteção contra as doenças atópicas, o que é lógico, uma vez que as vacinas protegem contra algumas infecções graves na infância, doenças agudas estas que são fatores de risco para manifestações atópicas crônicas. Na terminologia hahnemanniana, as vacinas evitam um maior desenvolvimento da Psora causado pelas grandes doenças epidêmicas. Isto não quer dizer que determinada vacina não possa apresentar efeitos alergênicos, como por exemplo, a vacina contra Haemophilus."
O artigo completo encontra-se publicado no Homeopathy, 2005, 94(13): 182-195; em inglês.

ÚLTIMO PONTO:

Tudo isso posto, vacinar ou não pode ser uma escolha da família. Cabe a mim, como pediatra e homeopata, ajudar na decisão, mostrando “os prós e os contras”. Admito que a minha experiência pessoal e profissional pesam muito. Não tenho como separar o que já vivi do momento atual. Fiquei sim, marcada pela experiência de ter cuidado de crianças que padeceram de males muito graves, que poderiam ser evitados pela vacinação. Ao mesmo tempo, também presenciei discussões e argumentos fortes de homeopatas importantes, contra a vacinação.

Quando o Dr. Vasant Lad esteve no Brasil, pude perguntar pessoalmente a ele, como lidar com a vacinação na infância. O Dr. Lad é um Vadya, um mestre, o maior expoente do Ayurveda aqui no Ocidente. E a resposta dele me tranqüilizou: vacine e combata as complicações. Simples assim!
(a visita do Dr. Lad ao Brasil está no meu outro blog, Namaste! - http://silsg.blogspot.com/2009/10/saibam-visita-do-dr-vasant-lad-e-pandit.html


quarta-feira, 1 de junho de 2011

SLING é moda ou tradição?

Este texto recém saído do forno é a minha primeira participação como colunista do site ANGELINO:
www.angelino.com.br, que é super legal, cheínho de dicas para pais e filhotes!

Vamos falar de slingar, que eu e Analu adoramos!

"Toda vez que me sinto atropelada pelo estilo de vida atual, olho para trás. Quando me sinto aflita com a modernidade vou resgatar, lá na tradição, algum costume já consagrado que me dá um pouco mais de certeza de que estou escolhendo com mais sabedoria. Em várias ocasiões da minha vida, resgatar o tradicional pesou mais e me trouxe mais benefícios do que ceder ao imediatismo, à facilidade e à pressa da atualidade. Assim foi na minha busca por exercer uma especialidade médica de forma mais sensível e consagrou até a minha escolha mais íntima de ter um parto natural, totalmente livre de intervenções.

Esta também é a história do SLING, que agora está tão “na moda”. Na verdade, sling é muito mais que moda, é um costume tradicional. E feliz, observo o resgate de mais um costume ancestral! Amarrar o bebê ao corpo da mãe (ou do pai, ou do irmão mais velho, ou de quem se dispuser a ajudar) é ancestral. Diversos povos ainda têm este hábito e, ainda hoje, podemos ver mães carregando seus filhotes enrolados ao corpo, na América do Sul, na África, a Ásia… Um hábito presente em culturas muito diversas! Atualmente, este hábito até ganhou um novo nome: babywearing, traduzindo do inglês, algo como vestir o seu bebê.

Com a modernidade, os bebês deixaram de ser carregados no colo para serem deixados nos carrinhos ou moisés. Hoje em dia existe até a tecnologia dos carrinhos de bebês, que os tornou mais leves, lindos e práticos.Toda mãe almeja ter um carrinho chique e moderno. Mas me pergunto: quem foi que teve a idéia infeliz de tirar os bebês dos colos de suas mães? Quem foi que pôde achar que um carrinho para bebês é melhor do que a maciez da pele e da doçura do cheiro da mãe? Bebês, desde os tempos imemoriais, foram carregados no colo e, de repente, vem a modernidade e muda tudo!

Meu instinto maternal é que faz estes questionamentos. Mas os argumentos concretos estão baseados no conceito da “gestação extra-uterina” ou “quarto trimestre”, desenvolvido por alguns estudiosos, entre eles o antropólogo Ashley Montagu. Segundo esta linha de pensamento, os três meses que se seguem ao nascimento são muito importantes na vida do bebê. Nesta fase acontece a adaptação ao mundo exterior. Durante a vida intra-uterina, o bebê vivencia uma situação de conforto, abraçado pelas paredes do útero, ouvindo constantemente os batimentos cardíacos da mãe e sentindo o seu balanço. Está aquecido e envolvido, em um ambiente com pouca luz. A vida fora do útero é um mar infinito de espaço livre para o bebê. Ele se sente solto, tem muito frio, não enxerga o suficiente ao seu redor.

Por isso o uso do sling é tão interessante. Dentro dele o bebê fica aquecido, ouvindo os batimentos cardíacos, sentindo o cheiro e o balanço da sua mãe. Bebês slingados são comprovadamente mais tranqüilos, dormem melhor, têm menos cólicas e, portanto, choram menos, para alívio de seus pais.  Usar o sling também favorece a amamentação. Primeiro porque o contato íntimo com a mãe fortalece o vínculo mãe-bebê (não podemos deixar de lembrar que a amamentação é um aprendizado para os dois).  E depois, porque bebês mais tranqüilos mamam melhor.

Dentro do sling, o bebê pode dormir, mamar ou ficar interagindo com o mundo, enquanto a sua mãe se ocupa de outras tarefas. À medida que vão crescendo, sentem-se participando de tudo, sentem-se como parte do mundo, e assim desenvolvem confiança e auto-estima. O uso do sling ajuda a desenvolver o senso de interdependência. As crianças se habituam, desde a mais tenra idade, ao fato de sermos seres interdependentes. E  é neste momento em que se planta a semente de que não precisamos ser tão individualistas e competitivos.

Alguém poderá me questionar: mas ficar muito com o bebê no colo não vai deixá-lo mimado demais? E eu respondo com um veemente não. Bebês pequenos precisam de colo e de contato pele a pele. Eles não têm como se informar do que acontece à sua volta, pois primeiramente, não estão adaptados ao mundo exterior e segundo porque seus sentidos não estão desenvolvidos. Eles simplesmente não sabem o que fazer para se acalmarem. Eles não sabem levar a mão à boca para sugar, não enxergam um móbile para se distraírem, o seu corpo ainda não se mantém aquecido sozinho e sentem muito frio. É vital e fisiológico, que um bebê receba calor humano e que ele seja embalado para que se acalme.

O sling pode ser usado até quando você quiser ou puder carregar o seu filho no colo. Um ano e meio, dois anos, ou além… muitos slings suportam o peso de 20kg. O uso não tem restrições nem contra-indicações. A postura do bebê ou da criança dentro do sling é mais fisiológica e mais adequada para a coluna do que nos carregadores modernos tipo mochila. E além do mais, o sling permite posições variadas: como se o bebê estivesse deitado em uma rede, para os recém nascidos. Ou barriga-barriga com a mamãe, ou sentado de frente olhando o mundo, para os maiorezinhos que já sustentam a cabeça. Ou ainda, de cavalinho na cintura, ou até nas costas da mãe.

Por tudo isso, o sling é muito mais do que apenas um acessório da moda. Se você escolher “vestir-se com seu bebê” estará escolhendo ter um bebê mais calmo, mais seguro e mais esperto. Terá mais chances de sucesso com a amamentação e, mamãe e bebê poderão usufruir dos inúmeros benefícios do aleitamento materno. Estreitará o vínculo do bebê com os pais, ou com quem cuidar dele. E experimentará a sensação de que deixar a modernidade um pouco de lado abre espaço para a tradição, para o instinto e para o nosso senso de humanidade, tão deixados de lados na vida atual.  Não deixa de ser uma forma de contribuição individual para o benefício universal, não é?"


Uma mamãe Butaneza slingando!
(tirei esta foto em 2009 na trilha do Tiger Nest, no Butão)
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