
Como pediatra sempre incentivei o aleitamento materno exclusivo até 6 meses e a sua manutenção até 2 anos de idade, como preconiza a OMS. Mas agora que sou mãe e estou amamentando a Analu, estou sentindo na pele e na alma as dificuldades e as delícias da amamentação.
É fundamental ressaltar que TODA mulher é capaz de produzir leite e amamentar. Não existe leite fraco e nem bebê saudável que não consiga mamar. O que existem são EQUÍVOCOS, que devem ser desfeitos.
É certo que todo bebê já nasce sabendo sugar, mas não mamar. Amamentar é, sem dúvida, um aprendizado. Mesmo porque no início, mãe e bebê estão se conhecendo. Mas aprendizado não significa uma lista de regras rígidas a serem seguidas item por item: amamentar a cada 3 horas, nesta ou naquela posição, tanto tempo num seio, depois mudar para o outro...
Existem sim, orientações para a pega correta da boquinha do bebê no peito, pois a pega correta é o que vai evitar o apareceimento das fissuras nos mamilos. Mas a posição do bebê pode variar bastante! Mãe e bebê acabam entrando num acordo quanto à posição mais confortável... podem sim, ficar livres para mamar deitado, sentado, de ladinho, de frente, como quiserem!
E vamos mamar à vontade! Logo no início a demanda do bebê pelo peito e por sua mãe é enorme! Ele nem sabe que saiu da barriga ainda, está só se adaptando! Eu sei (sei mesmo!) que é difícil para a mãe recente encarar várias noites sem dormir, a ansiedade com a situação nova, o blues puerperal... (aquela tristezinha inexplicável que todas nós temos depois do parto) nos sentimos sozinhas e desemparadas... mas estando consciente dos benefícios incomensuráveis da amamentação, tanto para a mãe quanto para o bebê, e tendo a certeza de que todo esse maremoto VAI PASSAR... isto já é um acalanto para os nossos corações aflitos de mães recém-nascidas ...e a amamentação passa a ser um deleite! Um momento único e mágico de entrega, de amor, de cumplicidade, de união com o bebê!
Podem existir dificuldades para aprendermos a dar de mamar. Para resolvê-las podemos contar com o auxílio de um profissional habilitado - uma consultora em amamentação. O trabalho da consultora é de grande valia para que a mãe não desanime, mesmo quando o quadro parece caótico, elas têm a solução! Além da técnica, dão o apoio emocional necessário nesta dase de adaptação. Muitas vezes os familiares e até o pediatra podem atrapalhar, desencorajando as mães (não por mal, mas por quererem poupá-las do "sofrimento") e introduzindo logo de cara a mamadeira de fórmula... como se isso fosse uma solução. Não, não é. É um equívoco. A solução é apoiar, acalmar, incentivar, conscientizar... ânimos acalmados, logo aparecem os benefícios e o enorme prazer em amamentar!
Para amamentar é preciso FICAR com o bebê NO COLO durante muito tempo! Permitam-se que nos primeiros meses seja assim: o bebê no colo o máximo de tempo possível! Vamos quebrar esse tabu de que dando amor e aconchego estaremos criando crianças mimadas! O bebê precisa do colo e do cheiro da mãe, precisa ouvir seus batimentos cardíacos e sentir o seu balanço, como se estivesse na barriga ainda. Ele precisa se sentir seguro, envolvido. Esta técnica funciona tão bem para os prematuros, é adotada em várias UTI´s neonatais (mães-cangurus)... porque não adotar o mesmo raciocínio para o bebê de termo?

"Como nas relações amorosas - e trata-se disso - , precisamos de tempo e privacidade. As mulheres precisam entrar em comunicação com o homem para aceitar o ato sexual. Não há diferença no ato de amamentar. O bebê precisa estar informado para sentir o contato e poder sugar, e as mulheres, para produzir o leite e gerar amor. Simples assim. (...)
Se recordarmos que o leite materno não é apenas alimento, mas sobretudo amor (...) acharemos absurdo negar o peito porque "não precisa", "já comeu" ou "é manha". (...)
Só o distanciamento de nossa essência nos leva a pensamentos tão violentos em relação a nós mesmas e aos nossos bebês."
Extraído do livro: "A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra" de Laura Gutman