FILOSOFIA

FILOSOFIA

A medicina natural pode acrescentar muito no cuidado geral com as crianças, no tratamento das doenças comuns da infância e na manutenção da saúde.



Os métodos naturais como a Homeopatia e o Ayurveda colaboram com uma postura menos materialista e menos imediatista, desencorajando a auto-medicação, o exagero e a falta de bom senso no uso da alopatia.



É possível mudar os hábitos e usar os recursos naturais a fim de construir um estilo de vida mais saudável, sem deixar de lado a prática médica convencional, com suas indicações precisas.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"a medicalização da vida e a cientificação da existência!"

O texto parece bastante complexo, mas lido com cuidado explica muito bem o que é isso!

(Abaixo reproduzo abaixo o texto na íntegra, extraído do site ECOMEDICINA (por sinal, excelente: www.ecomedicina.com.br). O autor, Dr. Paulo Rosenbaum, é médico e foi meu professor na Escola Paulista de Homeopatia. Nem preciso dizer o quanto amava as aulas dele!)

Vivemos em tempos em que o desenvolvimento tecnológico vem ocupando um espaço que não é dele. Tecnologia é muito bem vinda sim, mas devemos ter muita cautela. Olha só quanta coisa acontece por aí, propagandeando saúde e bem estar e na verdade deveriam ser muito bem repensados. Será que é isso mesmo que queremos? Distância, frieza, tanta praticidade assim? E nessas de tecnologia e praticidade, onde fica o instinto materno, o nosso feeling de poder saber o que fazer porque algo aqui de dentro diz que assim é o certo? Será que, por exemplo, mais da metade das mulheres brasileiras não sabem mais parir ? (ainda estou revoltada com os horrorosos 52% de cesarianas no país)... ou será que elas ficam deslumbradas em poder ter um parto tecnológico cheio de "cuidados" que só atrapalham?

Será que às vezes não é bom retroceder um pouquinho? Apelar para o chazinho da vovó, para o peito, o colo, o aconchego, para nossas raízes e tradições?

Quando tive meu parto natural, alguém me disse que tinha sido um parto "indígena". E eu respondi: foi mesmo. Para quem considera a medicina natural um retrocesso, costumo dizer que, em algumas ocasiões, este "retrocesso" é muito bem vindo. É a melhor escolha, é o que melhor sabemos fazer e é o modo de deixarmos que os milagres aconteçam.

Eu não tenho o dom de escrever e conseguir colocar em um só texto como isso me angustia. Mas o Dr. Paulo Rosenbaum tem. E faço destas as minhas palavras. Ele foi perfeito neste texto!

Aproveitem a viagem!

Milagre, antropogenia e cientificismo


A questão da ciência - seus limites e critérios - está sempre voltando à pauta jornalística. Artigos recentes lembraram a perseguição que cientistas americanos vêm sofrendo por acharem resultados que às vezes contrariam expectativas populares no caso de novas evidências surgidas contra a hipótese do aquecimento global.

Há quem ache que a ciência fará milagres. A tradução deste termo nos remete a múltiplos significados etimológicos. Mas o fato é que sempre que um extraordinário acontece, recorremos à palavra. O milagre é, provavelmente, muito mais banal do que supomos. Seriam as marcas de um acontecimento extraordinário, transcendente? A natureza do milagre, vale dizer, seu propósito, é exatamente forçar-nos a admitir que há algo além, muito adiante da curva do insondável. Talvez o que não dominamos, ou nem sonhamos em conquistar: o inexplicável. Exatamente tudo aquilo que nestes estertores de pós-modernidade não nos é mais permitido.
Por isso vê-se necessário explicitar a diferença entre atitude científica e cientificismo. Na inquietude científica, encontramos os autênticos elementos de ética e recato que pesquisas e pesquisadores devem ter: a cadência da humildade, a suavidade mental para admitir que há, inclusive, mais segredos que explicações, o respeito pelo contraditório e inacabado. Enquanto isso, na outra ponta, o cientificismo tornou-se uma seita: adota uma percepção seletiva, determinista, às vezes dogmática e descontextualizada.

O milagre é lugar-comum, porque não é difícil verificar que o comum contém o milagroso. Acontece bem na soleira das nossas portas ou aqui mesmo, dentro de cada organismo. A respiração e as trocas gasosas de captação de oxigênio e eliminação de CO2 (gás carbônico) são milagres que acontecem 31 vezes por minuto. A manutenção da temperatura corporal humana de 36,8 graus (em média), mesmo quando há frio e calor excessivo, também poderia figurar nesta categoria. É a homeostasia - uma excepcional constatação do médico fisiologista Walter Bradford Cannon nos anos 30 - a capacidade de nos manter razoavelmente estáveis em um meio altamente instável. Os pequenos milagres, ou sinais de vida, têm uma constância absurda, e faz bem alguma humildade para não atribuir tudo ao acaso.

Afinal, muitas coisas que estamos tentando curar com a tecnociência nossa de cada dia - entre as quais a destruição da biosfera, a desclimatização do planeta, as patologias provocadas por radiações ionizantes, a explosão de moléstias neurodegenerativas, a farinização e industrialização dos alimentos - são enfermidades artificiais, produzidas por nossas próprias decisões e meios de vida. As modificações que o homem introduz no meio ambiente são conhecidas como antropogenias.

Ao mesmo tempo, deparamos com um avanço das ciências aplicadas, tanto espetacular como perturbador. Há confiança excessiva no domínio frágil, se não perigoso, da própria natureza. Isso se alastra por todos os cantos, da medicina à astronomia, da física à biologia. Mas essa inflação do papel da ciência nas nossas vidas embute um impasse, já que ele não nos torna automaticamente aptos para assumir, nem a compreensão nem a onisciência prometida.
O inconcebível avanço da tecnociência é um marco da capacidade humana, mas seu uso, e preço, pouco razoáveis. Podemos enxergar o tamanho do exagero? O endosso generalizado e acrítico com que passivamente aceitamos todos esses instrumentos e artefatos?

Escancaramos as porteiras da medicalização da vida e fomos um pouco adiante: a cientifização da existência.
Por isso é salutar provocar com o desconhecido. Acreditemos ou não nele, os milagres evidenciam desafios. E o desafio não é só seguir adiante num mundo fraturado, com as tradições, todas elas, em frangalhos. Estamos em plena era dos descartes - prematuros e erráticos - das necessidades subjetivas, do mundo interior, da arte e da filosofia como forma de vida (ou de morte). Mergulhamos no pragmatismo cru, nas hiper-racionalizações que bloqueiam a vida, quando na verdade a vida e a saúde são a regra, as anomalias e as doenças, dolorosas exceções.

O desafio agora é autocrítico, e, eventualmente, considerar retroceder, como fez recentemente a Alemanha ao dizer não às centrais nucleares. E por que não voltar passos atrás? Diante da extensão do incognoscível precisamos reconhecer a extensão da arrogância e a soberba intelectual que nos possuiu. Possuiu-nos frente ao que não sabemos nem controlamos. O homem pode produzir milagres - e o fará cada vez mais - assim a ciência demonstra. E é bom que seja assim.

Vibraríamos todos com tetraplegias curadas com elétrodos, e quando nossos recursos tivessem se esgotado seria absolutamente genial acompanhar exércitos de robôs extraindo água de asteroides congelados. O inconcebível é imaginar um domínio arrogante, que despreza os efeitos colaterais das interferências: aí está a sobrenatural empáfia do cientificismo.

Sempre me interessei por robôs, mas também sempre lamentei que eles, ao menos nas ficções, acabem se insurgindo contra seus criadores: foi assim em 2001, Uma odisseia no espaço, de Arthur C. Clarke, e se repetiu em Eu, robô, de Isaac Asimov. Não é só uma ética duvidosa, em uma palavra, ingratidão, esta das máquinas. As referências são oportunas para mostrar que, tal qual velhos robôs, também podemos nos enganar. É possível até prescindir de atribuir uma autoria ao Cosmos e substituí-la por esse androide mítico chamado tecnologia. Se é essa é a grande revolução do século 21, ficamo-la devendo às próximas gerações.

Paulo Rosenbaum - médico, PhD e pós-doutor pela USP, poeta e escritor

(Artigo publicado no Jornal do Brasil)




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